quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Viagem de UTI MÓVEL

Esperávamos a ambulância chegar, ela vinha de numa cidade vizinha...Nosso coração se envolvia em sentimentos diversos, era um misto de aflição, angustia, tristeza, e amor!
Tinhamos que decidir quem iria junto na ambulância, só poderia ir um de nós. Decidimos que eu iria de ambulância, e a Elizangela de ônibus (devido a cesariana, as poltronas do ônibus pareciam ser mais confortáveis). Arrumamos rapidamente algumas roupas em uma mala. Ficamos lá no hospital naquela espera angustiante: não pela demora do transporte mas pela incerteza daquele novo momento.
De repente umas pessoas diferentes chegam ao berçário..passava das 17:00 horas. Pareciam que estavam indo para uma guerra: vestiam macacões de resgate, era até engraçado. E traziam uma incubadora de viagem.
Eram duas moças: a médica e a enfermeira. Tinham o semblante tranquilo, transmitiram a mim muita segurança.
O pediatra da Ana Luiza também estava lá a espera destas pessoas, e então nesse momento conversou com a Médica que iria acompanhar o transporte e passou as informações necessárias e os relatórios.
Colocaram a Ana Luiza na incubadora e seguimos. Os profissionais da enfermagem do Hospital e o Pediatra nos transmitiram votos de sorte e confiança...nos despedimos.
Chegamos na ambulância e conheci mais um personagem inesquecível das viagens: o motorista. Ele se apresentou com um largo sorriso e pediu gentilmente que eu assinasse um documento referente a viagem. Assinei, e ele me informou que eu iria juntamente com ele na cabine, enquanto a Ziza viajaria com a equipe na parte de traz (logicamente).
Me despedi da minha família, confortei a Elizangela (ou ela a mim, não sei!) e seguimos viagem.
Logo percebi que nossa viagem, além de todos os sentimentos que eu já havia citado antes na espera, seria também envolvido em um clima de aventura. Não sei se vocês já fizeram uma viagem nestas condições...mas no meu caso, o motorista corria muito: agora entendia o motivo dos macacões da equipe, parecia coisa de filme. Mas não era filme..era real! Minha filha estava alí...e eu o que fazer? Sei lá! Aproveitei a simpatia do motorista e comecei a perguntar um monte de coisa. Acho que ele era treinado para aturar pai aflito! Minha conversa as vezes dava uma pequena pausa quando a minha angustia era incontrolável, e eu precisava respirar fundo, fazer um prece bem envolvente (em silêncio, claro!). Vez ou outra eu perguntava para a médica se estava tudo bem com minha filha, e ela sempre respondia que estava tudo "ok", e ela também muito simpática me oferecia balas..rsrs. Sempre Deus nos colocando em meio à anjos. Entre esse clima, ainda cheio de sentimentos diversos, a médica me questionou, de forma tão discreta que quase não entendi o motivo:
- Qual sua idade?
- 29.- Respondi.
- E sua esposa?
- 28. -Respondi tranquilamente também, mas já me indagando em pensamento.
- Vocês tem outros filhos?
- Não é nossa Primeira! -Falei com orgulho, mas logo aquela ponta de indagação mental, se transformou em "verbo", e saiu meio que gaguejando:
- Por que? tem algum problema que não estamos sabendo?
- Não! É que as vezes casos de cardiopatia, associados a baixo peso, podem estar indicar ama situação de síndrome genética. Mas não se preocupe! -respondeu ela.
- Mas o que isso quer dizer, o que vai acontecer agora? - Já retornei imediatamente com um novo questionamento.
- Possivelmente lá em Porto Alegre eles façam um exame chamado "cariótipo", e aí se tira a dúvida, e se encaminha para os tratamentos. É preciso esperar agora.
Nessa conversa surgiram coisas novas. Síndrome? Pra mim síndrome genética só conhecia DOWN, e a Ziza não tinha as caracteristicas...Será?
Será? Será? Eram muitos "serás" nessa história.
Na viagem a minha filha estava até bem tranquila, dormia e só acordava e chorava um pouco quando passavamos por algum buraco na estrada. O motorista vez ou outro questionava a médica se estava tudo bem, o que quase instintivamente também me colocava na obrigação de questionar o mesmo...e a resposta era sempre a mesma : SIM!
Chagamos em Porto Alegre. Logo se percebia a diferença: a movimentação típica das cidades grandes.
Seguimos mais alguns minutos estávamos na porta do Hospital Mãe de Deus, quase 05 horas após a partida de Ijuí.
A equipe da ambulância saiu rapidamente, descarregaram a incubadora com a Zizinha (mesmo naquela situação estava linda) e seguiram com ela até um elevador. Eu logicamente sempre atras, não queria perde-las de vista. Chegamos na porta da UTI NEO-NATAL, onde tive que esperar enquanto elas levavam minha filha.
Parecia tudo entranho. Aquele barulho de aparelhos apitando, aquele monte de incubadoras, aquela correria.
Em seguida a Médica e a Enfermeira (da viagem) saíram, se despediram de mim, e já estavam indo, quando eu mais uma vez precisei questionar, pois estava completamente perdido:
-E agora o que eu faço?
-Aguarda aqui que eles já vem falar contigo! Agora eles vão pedir o cariótipo que te falei. Fica tranquilo! - Respondeu a médica.
Nossa! Um novo momento estava surgindo na nossa "nova rotina". Nunca tinha sequer passado perto de uma uti neo-natal, e agora estava dentro de uma em Porto Alegre.
Será que vão demorar a me chamar para conversar?
Fiquei aguardando mais um tempo e logo me chamaram. Eu poderia ver a Ziza e a médica queria fazer algumas perguntas.


Pessoal, preciso deixar esse capitulo para a próxima postagem. É muito intenso, embora tenha acontecido em um relativo "curto" espaço de tempo. A conversa com a médica, a Zizinha chorando, a Elizangela viajando, e solidariedade da enfermagem! Nossa muita coisa mesmo!

Aguentem firme, pois logo farei a próxima postagem...PROMETO.

Abraços

Eloir

2 comentários:

  1. Estou doidinha para a história chegar aqui em Ribeirão Preto, mas ainda tem chão, né? Parabéns pela sua coragem de compartilhar fatos e emoções. Isso é para homens com H.

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  2. Rsrsrs....até chegar em Ribeirão tem muuuuiiiitttooo chão...Agora estamos ainda em uma terra "distantinha" Porto Alegre....depois....
    Obrigado pelo carinho de sempre
    Eloir

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