Aí está a história do papai Gustavo e sua filha Luiza (na foto ao lado). As palavras me faltam nesse momento, mas poderia dizer: leia esse relato, esse belo texto, e deixe sua vida se transformar! Obrigado Gustavo!
Porque nós?
Luiza alimentava-se através de botton e tinha poucos movimentos. Era hipotônica. Tinha febres constantes desde que nasceu. Não passava mais de dois dias sem febre e em alguns dias as febres vinham e voltavam constantemente.Luiza totalizou mais de um ano em internações em hospitais, em ocasiões diferentes.
Dividiu essas internações entre quartos e UTIS.
No primeiro ano, passou mais tempo internada do que em casa.
No ano seguinte, essa situação melhorou pelo fato de termos conseguido Home Care, depois de muita “insistência” com o plano de saúde. Com o Home Care conseguimos evitar muitas internações. Outras não.
Trabalhava e quem cuidava da Luiza, no seu dia a dia era a minha mãe, com a ajuda preciosa e importante de minhas irmãs. Uma delas, a Lenita, se apegou bastante a Luiza e foi uma companhia constante para ela, principalmente nas internações. Buscamos sempre o melhor tratamento, que como vocês sabem por experiência própria, é muito custoso. Procuramos os melhores profissionais, mesmo quando o plano não cobria.
E, todos os dias, agradecia pelo fato de poder fazer isso. Angustiava-me saber que a maioria das famílias não tem essa condição financeira. Pensava: Deve ser horrível querer fazer algo e não ter condições financeiras.A reabilitação com fisioterapeutas e fonoaudiólogas foi particular, assim como alguns médicos, como neurologista, nutróloga, homeopata, oftalmologista...Claro, que passei por várias fases. Aliás, é normal que seja assim. O que não é legar é ficar estagnado em alguma destas fases.Revolta, frustração, medo, insegurança...Mas, me esforçava para tirar os pensamentos ruins da cabeça.
É complicado...Mas procurava extrair e fazer crescer o lado positivo.Tudo começa no mundo das idéias, do pensamento.Por isso a importância de se pensar positivo, mesmo que seja muito difícil.
É difícil, mas penso que este é o caminho correto.
Não gostava de usar qualquer dificuldade de minha filha, como desculpa para alguma dificuldade minha. Não queria me colocar e nem queria que me colocassem no papel de vítima. Isto afasta as pessoas e faz mal a nós mesmos. De vez em quando tinha minhas recaídas.
Refleti muito sobre a frustração de não ter tido uma filha saudável, e tento manter esta questão bem resolvida.Minha filha foi especial e precisou do meu amor.Não posso ser egoísta me martirizando por ter tido uma criança com necessidades especiais.Assim, só faço mal a Luiza, que não merecia e nem merece isso.Ela já tinha tido problemas demais...Tinha que ser generoso aceitando a sua condição e olhar sob a perspectiva de minha filha.Aceitação é o que deve ser buscado. É onde começa a transformação.O que me ajudou muito a pensar desta forma, foi conhecer outras crianças especiais, cada uma especialmente diferente. Não tinha mais, como avaliar se o meu caso era “melhor” ou “pior”. Às vezes comparando, me sentia de certa forma em situação melhor.
Este contato ajuda a lidar com aquela pergunta que está na cabeça de todos nós:“ Porque Eu?”.No mínimo, este questionamento se transforma em “Porque nós?”.O que posso dizer, é que a Luiza foi um presente para mim.Difícil de desembrulhar, mas um belo presente.
Muitas pessoas não entenderão e pensarão que eu de alguma forma surtei, mas é a verdade. Eu até, confesso que demorei um pouco a compreender isso. Hoje compreendo totalmente.Vejo que Luiza me deu forças (quem sou eu pra me queixar da vida, quando eu tive uma guerreirinha que amava viver, apesar de todas suas dificuldades e dores), e me ensinou muito. A mim e a outras pessoas que tiveram a oportunidade de ter uma convivência mais íntima com ela.
Mudei minhas perspectivas, o modo de observar e entender o mundo. Luiza uniu e transformou pessoas.Ela trouxe Luz para mim, para a família e mesmo não mais presente fisicamente, continua nos ensinando a praticar o amor incondicional, aquele que não se pede nada em troca.Acredito, que muitos acontecimentos, têm um propósito maior, e que se hoje são incompreensíveis para mim, espero compreendê-los um dia.A linha que separa estar vivo, de não estar, é muito tênue.Penso que é impossível que não exista algo além de um corpo feito de carne, já que em um momento somos toda a complexidade de estar vivo, e em outro não somos mais nada. Penso Também que a mãe da Luiza está bem e que de alguma maneira olha por ela.Creio em tudo isso, não apenas porque me disseram ou li em algum lugar, mas porque realmente sinto. Abraços e força a todos...
Gustavo Legey